Na semana passada, Portugal acordou com a notícia de um menino, 12 anos, que se suicidou após sofrer agressões continuadas por parte de colegas. Terá dito: "A mim não me batem mais". A ele, de facto, não lhe batem mais. A ele, de facto, a vida não bate mais.
O país, meio acordado do pesadelo, inquire a medo: o que se passou? Como pôde isto acontecer? Escreveram-se notícias, fizeram-se reportagens, encheram-se programas matinais com o assunto. E muita gente falou, e muita gente avançou soluções sobre como prevenir situações destas. Prevenir. Mas poucas pessoas sugeriram como actuar depois de já terem acontecido. Se, por um lado, aquele menino podia ser o nosso filho; por outro, os outros que o agrediram também podiam ser os nossos filhos. E ninguém arrisca. Abriu-se um inquérito e, de repente, começamos a ouvir, vezes de mais, as palavras "alegadamente" e "eventuais".
Meio acordado, em choque, o país enfrenta a dura verdade - que amiúde nega - de que as crianças, os pré-adolescentes, os adolescentes não são anjinhos, desprovidos da dimensão mais negra do ser-se humano. Enfrenta, a medo, que a crueza e a crueldade serão tão naturais no animal humano como a compaixão e a empatia. E que numa criança tudo isto está em evidência de forma mais intensa, porque a auto-regulação aprende-se com o tempo, com a vida, com os exemplos. Com a Educação, enfim. Então, o que falhou aqui? Em Mirandela, e no Mundo inteiro onde haja um recreio com crianças?
Vigilância. "São precisos mais vigilantes nos recreios. O recreio de uma escola é tão importante como a sala de aula. É nos recreios que estas coisas acontecem. E depois são precisos mais psicólogos nas escolas", avançou o psiquiatra Daniel Sampaio. Resolverá este problema toda a vigilância do Mundo? "É necessário que a escola, a partir dos alunos, desenhe um programa de actuação para evitar a violência entre pares. É sensibilizar, é responsabilizar, é educar. Estas situações evitam-se através das testemunhas que não podem permitir, não podem silenciar", continuou.
Esta psicóloga toca no ponto nevrálgico: "As crianças são pessoas. Ponto. E pessoas que vivem de uma forma muito mais intensa as suas emoções - tanto as negativas como as positivas -, porque lhes faltam mecanismos de regulação". Ou seja, falta-lhes filtro, estão em estado bruto, verdadeiro, puro, sendo que pureza não significa apenas generosidade. É ao longo de uma vida que vamos aprendendo a civilização, por oposição à animalidade de que, na base, somos feitos. Todos.
Poder. Uma criança, um pré-adolescente, um adolescente são pessoas a nascer para o grupo. Enquanto que em casa têm o seu papel definido, fora de portas são apenas um entre milhares. Nada mais natural do que, instintivamente, engendrar formas de contrariar esse anonimato. Há uma necessidade de afirmação. No seu lado mais negro, essa afirmação faz-se à custa do outro. Da troça, da ridicularização, da humilhação, da ameaça, da força física.
Responsabilizar. Parece ser esta a palavra que custa tanto dizer relativamente às crianças, aos pré-adolescentes, aos adolescentes. Colocar panos quentes - branquear - parece ser mais fácil do que desmontar esta ideia de que os meninos são anjos. "A representação que os adultos fazem das crianças é que estas são felizes e boazinhas", justificou Paula Cristina Martins, investigadora da Escola de Psicologia, da Universidade do Minho.
Comentário:
É pena que as pessoas só acordem quando as coisas acontecem.. Geralmente, estas coisas são quase sempre negativas.. Estes cuidados apresentados nestas notícias parecem-me extremamente racionais e esquecidos em algumas escolas ou em outros centros educativos... Ao analisarmos o caso da criança que se suicidou por ser vítima de bullying, apercebemo-nos que realmente algo falhou na sua escola. O apoio por parte dos auxíliares educativos não foram cumpridos.. E se uma criança vai parar ao hospital vitima de violência de certeza que não é um assunto para se "deixar passar". A consequência para tais actos de intolerância foi a morte..A morte de uma criança que se sentia enfraquecida em relação ás outras.. Uma infância roubada por "ladrões" que ainda vivem essa infância.. Mas poderemos chamar isso infância saudável? Não.
Assim, é necessário alertar, pais, professores e alunos e outros meios de autoridade para que desempenhem correctamente as suas funções.
Importará, obviamente, prevenir o futuro, atribuindo a todos os intervenientes apoio. E responsabilidades...
Comportamentos como estes não são toleráveis.. Não vamos deixar passar em branco uma situação como esta! Denunciem..Situações semelhantes podem levar á morte de outrem, como o caso do Leandro que tinha 12 anos...Apenas, 12 anos...