20 janeiro 2010

Deficiente diz ter sido esterilizada

Uma cidadã portadora de deficiência mental queixou-se ontem, terça-feira, em tribunal de ter sido "obrigada" a "laquear trompas" para não voltar a ter filhos. Acusou a ex-governanta do lar onde vive de agressões e de dar comida com "bicho". "Ela merece um castigo", disse.



Visivelmente nervosa durante o depoimento prestado no julgamento que decorre nas Varas Criminais do Porto, N., moradora na Residência do Bairro do Cerco do Porto da Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental, desfiou um rol de acusações contra Maria da Luz, 68 anos, que responde por crimes de maus-tratos.

"Quem chegava tarde do trabalho não comia. Ela fez mal a muita gente. Ela é muito má", afirmou, garantindo ter sido alvo de agressões, puxões de cabelos e inclusivamente ter sido obrigada, um dia, a andar "descalça" na rua. Assegurou, ainda, que a arguida também maltratou outros dos 12 utentes da residência.
"Um coelho tinha de dar para 12 pessoas. O feijão era servido com massa e bichos. As funcionárias nunca lá comiam", relatou, no que foi corroborada por outro cidadão deficiente. "A comida chegou a ter baratas", disse S., que trabalha numa fábrica.
Impressionante foi a alusão a uma alegada esterilização não consentida. Porém, N. não especificou o responsável por tal acto. "Obrigaram-me a fazer a laqueação, que eu não queria! Para não ter mais filhos", contou a mulher, narrando algo que terá acontecido há dez anos, após ter dado à luz uma filha, que ficou a cargo de outra pessoa.
"Ela chegou a impedir visitas da minha filha. Quando telefonavam, ela respondia que eu não estava, que estava no hospital. Fez-me a vida negra. Só espero que ela seja castigada!", insistiu. Todavia, o episódio da suposta esterilização não consta da acusação do Ministério Público, tendo sido arquivado. Do despacho constam seis crimes de maus-tratos.
Inquiridos ontem, vários funcionários declararam não ter visto agressões aos cidadãos deficientes mentais. À excepção de uma, que relatou o episódio do passeio sem calçado de N.. Porém, a cozinheira da residência daquele lar confirmou ordens para servir aos utentes comida estragada ou com suspeitas de tal.
Maria de Lurdes contou, até, que, num dia em que uma arca congeladora avariou, os funcionários receberam ordens para confeccionar carne "que já tinha cheiro e perdia cor", mas lavando-a previamente com "limão e vinagre". "Eu não a comia. Porque fiz? Porque me mandaram". A cozinheira garantiu, ainda, ter recebido ordens para dar um quilo de arroz para 12 pessoas e destinar "uma batata" a cada utente.
O julgamento prossegue a 2 de Fevereiro.

Comentário: Já não é a primeira vez que se ouve falar em maus tratos e agressões nos lares a pessoas idosas ou doentes mentais. impressionante como em pleno séc.XXI estes crimes humanos ainda existam. é natural que muitos se recusem a ir para essas instituições. As pessoas que trabalham em sítios como este deviam ter o mínimo de sensibilidade. Se fossem avaliadas pelo seu trabalho (como os professores) não era nada disto!

Sem comentários:

Enviar um comentário