13 dezembro 2009

Morte de Zhao Ziyang põe contradições da China no holofote

As autoridades chinesas adotaram medidas rápidas para minimizar reações públicas à morte de Zhao Ziyang, demonstrando a sua preocupação de que o ex-líder se mostre um símbolo mais poderoso da oposição na morte do que era em vida.

Se a história é algo a ser seguido – e na política da China esse é freqüentemente o caso –, a morte de um ex-líder sobre o qual existe a percepção de ter sido maltratado pelos atuais ocupantes do poder poderia gerar protestos contra o governo.
Segundo analistas, atividades em memória de Zhao podem se tornar um foco para a desilusão com as rápidas mudanças econômicas e sociais da China atualmente, especialmente a diferença crescente entre ricos e pobres.
A China mudou dramaticamente desde 1989 e ainda é muito cedo para prever como os eventos vão se desenrolar.



'Bode expiatório'

Até agora tem havido muitos tributos ao líder reformista morto de dissidentes exilados e outros chineses que moram fora do país, mas muito pouca reação dentro da China.
Aqueles contatados pela BBC para esse artigo não quiseram comentar, mostrando como a questão Zhao continua a ser sensível.
Zhao será lembrado por muitos chineses, autoridades e público em geral como um bode expliatório, disse o professor David Goodman, biógrafo de Deng Xiaoping e outros líderes comunistas mortos.
"Independentemente do que é dito em público, Zhao Zyiang era uma figura muito simpática para muitos dentro do PCC (Partido Comunista Chinês), mesmo em níveis bastante altos. Provavelmente ainda mais com o passar do tempo desde 1989", disse.



Tiananmen

Zhao foi afastado de seu posto de secretário-geral do Partido Comunista em 1989, depois de ter se oposto às medidas violentas para acabar com os protestos liderados por estudantes na Praça Tiananmen (da Paz Celestial).
Ele passou os últimos 15 anos de sua vida sob prisão domiciliar.
O evento que provocou os protestos de 1989 foi a morte do antecessor de Zhao como líder do partido, Hu Yaobang. Hu era um reformista que foi afastado depois de ter sido considerado muito mole ao lidar com protestos estudantis a favor da democracia realizados anteriormente.
Os atuais líderes da China estão levando adiante as reformas econômicas em estilo capitalista iniciadas por Zhao Ziyang nos anos 1980, mas as suas tentativas na direção de mudanças políticas permanecem congeladas.
Os estudantes de hoje, porém, parecem mais preocupados em fazer dinheiro do que forçar reformas políticas.
Nos últimos meses, tem havido muitos protestos contra questões como corrupção e diferença de renda, mas eles aconteceram em áreas remotas, envolvendo trabalhadores e agricultores em desvantagem que podem nem chegar a ouvir falar da morte de Zhao.
As contradições na China de hoje são semelhantes, de alguma forma, àquelas que criaram as condições para as demonstrações de 1989.
Mas há duas grandes diferenças, que podem tornar improvável a repetição de tais protestos, segundo um observador da China baseado em Taiwan.
"Naquele momento havia uma divisão entre conservadores e reformistas dentro do partido, mas agora não há", disse o professor Zhao Jiangmin, da Universidade Nacional de Chengchi.
"Em segundo lugar, a sociedade não é tão política como era então. O mecanismo político para tais protestos não existe mais."



Divergências


O obituário oficial de Zhao pode ser, na verdade, causa para novas divergências dentro do partido, segundo alguns analistas.
Algumas autoridades graduadas têm muito a temer em qualquer reavaliação de Tiananmen, outros devem sua ascensão à proteção de Zhao e se acredita que compartilham muitas de suas crenças.
O premiê Wen Jiabao era um aliado próximo do ex-líder durante os protestos em 1989. Ele estava até mesmo atrás de Zhao quando ele fez seu último apelo aos estudantes para que deixassem a praça.
Wen e o atual líder da China, Hu Jintao, projetam uma imagem menos dura do que outros líderes pós-Tiananmen, dando motivos para alguma especulação de que eles podem, em algum momento, "reverter o veredicto" em relação aos protestos e avançar na direção de reformas democráticas.
No entanto, muitos observadores dizem que qualquer reforma política genuína continua uma perspectiva remota e que Hu é tão dedicado a preservar o poder do partido quanto seus antecessores.
"Ninguém entre os principais líderes, muito menos Hu, tem qualquer interesse em elevar o nome e o símbolo de Zhao Ziyang", disse Graham Hutchings, analista de China da Oxford Analytica.
Tal iniciativa poderia abrir uma série de questões, inclusive questões sobre a linha de sucessão pela qual Hu chegou ao poder, segundo ele.
"Todo mundo na liderança tem interesse em fazer as homenagens a Zhao tão minimalistas quanto possível. Na verdade, duvido que voltemos a ouvir novamente o nome dele na mídia oficial", disse Hutchings.
O enterro de Zhao deve ser discreto e com forte esquema de segurança, parte dos esforços para evitar oportunidades de protestos.
Mas a visão duramente crítica expressada sobre o legado político de Zhao deve ser moderada nos obituários oficiais.
"Não me surpreenderia se eles o descrevessem como um 'revolucionário comunista' que 'aderiu à construção do socialismo com características chinesas' mas cometeu alguns enganos", disse Zhao Jiangmin, em Taiwan.
"Eles não podem dizer: 'Temos um inimigo que acaba de morrer'. Ao mesmo tempo, a avaliação oficial sobre seu ' crime' nunca foi revertida – e é pouco provável que o seja agora."

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